Em Portugal, a prevalência de perturbações psiquiátricas está entre as mais altas da União Europeia. Em 2019, cerca de 22% da população foi afetada, comparativamente à média de 16,7% na União Europeia. Neste contexto, as perturbações da personalidade destacam-se como algumas das psicopatologias mais comuns e graves (Wright et al., 2022). Antes de aprofundarmos essas condições, é necessário compreender o conceito de personalidade.
O que é a personalidade?
Quantas vezes não ouvimos a frase: “Sais mesmo ao teu pai/mãe!”? Mas será que a personalidade se transmite geneticamente ou será, na verdade, um reflexo das nossas experiências de vida e ambiente em que estamos inseridos?
A Associação Americana de Psicologia (APA) define a personalidade como o conjunto duradouro de características, padrões individuais de pensamento, sentimentos e comportamentos que tornam um indivíduo único. Ela engloba traços, valores, autoconceito, habilidades e padrões emocionais.
Além disso, diversos fatores moldam a personalidade, como a hereditariedade, a maturação física, as experiências precoces, as relações significativas, valores culturais e papéis sociais. A personalidade reflete a forma como o indivíduo se ajusta às vicissitudes da vida, influenciada por múltiplos fatores internos e externos. Apesar das várias teorias existentes sobre a sua estrutura e desenvolvimento, todas concordam que a personalidade influencia fortemente o comportamento humano.
Personalidade vs Temperamento e Caráter
Muitas vezes, confundimos os termos “personalidade”, “caráter” ou “temperamento”. Apesar de serem usados como sinónimos no quotidiano, possuem significados distintos. A compreensão dessas diferenças é essencial.
- Carácter, por um lado, refere-se a um conjunto de características adquiridas ao longo do desenvolvimento/crescimento, sobretudo através da socialização, e está associado a um grau de conformidade com normas e ideais sociais.
- Temperamento, por outro lado, refere-se a uma predisposição biológica inata que influencia padrões de comportamento e reatividade emocional, independentemente das influências ambientais ou sociais.
Deste modo, compreender estas distinções ajuda a clarificar o papel único da personalidade na formação do comportamento.
Quando a Personalidade se torna Patológica?
O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5) define uma perturbação da personalidade como um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se afasta marcadamente do esperado para o indivíduo numa dada cultura. Este padrão mostra-se inflexível, podendo iniciar na adolescência ou no início da idade adulta, mantendo-se estável ao longo do tempo, levando a mal-estar ou incapacidade.
Além disso, é essencial que um ou mais traços característicos de perturbação da personalidade exerçam um impacto predominante no funcionamento executivo global do indivíduo. Esta interferência pode afetar áreas como as relações interpessoais e afetivas, desempenho académico ou profissional. Por fim, é igualmente importante assegurar que os sintomas observados não podem ser justificados pela presença de outro diagnóstico.
Consequentemente, o diagnóstico requer uma análise cuidada e contextualizada por parte dos profissionais de saúde mental.
Tipos de Perturbações da Personalidade
Existem diversos tipos de Perturbações da Personalidade, entre as quais:
- Perturbação Paranoide da Personalidade
- Perturbação Esquizoide da Personalidade
- Perturbação Esquizotípica da Personalidade
- Perturbação Antissocial da personalidade
- Perturbação Estado-limite (borderline) da Personalidade
- Perturbação Histriónica da Personalidade
- Perturbação Narcísica da Personalidade
- Perturbação Evitante da Personalidade
- Perturbação Dependente da Personalidade
Cada uma destas condições apresenta características distintas, sendo essencial uma avaliação rigorosa. Assim, o diagnóstico deve realizado por um profissional qualificado, com base nos critérios do DSM-5 ou da CID-11.
O tratamento, por sua vez, pode envolver psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, tratamento farmacológico para sintomatologia associada.
Tome o primeiro passo!
Concluindo, se tem tem dúvidas acerca do funcionamento da sua personalidade ou denota que certos traços interferem com as suas relações e bem-estar procure uma avaliação especializada. Um diagnóstico adequado pode ser o primeiro passo para um tratamento eficaz. Marque a sua consulta e dê o primeiro passo para melhorar a sua qualidade de vida!